sábado, 18 de junho de 2011

SILVINO GEREMIA - um exemplo de cidadão.

Desabafo do empresário Silvino Geremias sobre a taxação em cima do incentivo a educação proporcionado à seus funcionários.
É deste tipo de atitude que nosso país precisa.
Colaboração, solidariedade, partilha e incentivo humano.

Eis o seu desabafo, publicado na revista EXAME:

"Acabo de descobrir mais um desses absurdos que só servem para atrasar a vida das pessoas que tocam e fazem este país: investir em Educação é contra a leis.Vocês não acreditam?
Minha empresa, a Geremia, tem 25 anos e fabrica equipamentos para extração de petróleo, um ramo que exige tecnologia de ponta e muita pesquisa. Disputamos cada pedacinho do mercado com países fortes, como os Estados Unidos e o Canadá. Só dá para ser competitivo se eu tiver pessoas qualificadas trabalhando comigo.Com essa preocupação criei, em 1988, um programa que custeia a educação em todos os níveis para qualquer funcionário, seja ele um varredor ou um técnico.

Este ano, um fiscal do INSS visitou a nossa empresa e entendeu que Educação é Salário Indireto. Exigiu o recolhimento da contribuição social sobre os valores que pagamos aos estabelecimentos de ensino freqüentados por nossos funcionários, acrescidos de juros de mora e multa pelo não recolhimento ao INSS. Tenho que pagar 26mil reais à Previdência por promover a educação dos meus funcionários?
Eu honestamente acho que não.

Por isso recorri à Justiça. Não é pelo valor em si , é porque acho essa tributação um atentado. Estou revoltado. Vou continuar não recolhendo um centavo ao INSS, mesmo que eu seja multado 1000 vezes. O Estado brasileiro está completamente falido. Mais da metade das crianças que iniciam a 1ª série não conclui o ciclo básico. A Constituição diz que educação é direito do cidadão e um dever do Estado. E quem é o Estado?

Somos todos nós. Se a União não tem recursos e eu tenho, acho que devo pagar a escola dos meus funcionários. Tudo bem, não estou cobrando nada do Estado. Mas também não aceito que o Estado me penalize por fazer o que ele não faz. Se essa moda pega, empresas que proporcionam cada vez mais benefícios vão recuar. Não temos mais tempo a perder. As leis retrógradas, ultrapassadas e em total descompasso com a realidade devem ser revogadas. A legislação e a mentalidade dos nossos homens públicos devem adequar-se aos novos tempos. Por favor, deixem quem está fazendo alguma coisa trabalhar em paz. E vão cobrar de quem desvia dinheiro, de quem sonega impostos, de quem rouba a Previdência, de quem contrata mão-de-obra fria, sem registro algum.

Eu Sou filho de família pobre, de pequenos agricultores, e não tive muito estudo. Somente consequi completar o 1º grau aos 22 anos e, com dinheiro ganho no meu primeiro emprego, numa indústria de Bento Gonçalves, na serra gaúcha, paguei uma escola técnica de eletromecânica. Cheguei a fazer vestibular e entrar na faculdade, mas nunca terminei o curso de Engenharia Mecânica por falta de tempo. Eu precisava fazer minha empresa crescer. Até hoje me emociono quando vejo alguém se formar.

Quis fazer com meus empregados o que gostaria que tivessem feito comigo. A cada ano cresce o valor que invisto em educação porque muitos funcionários já estão chegando à Universidade.
O fiscal do INSS acredita que estou sujeito a ações judiciais. Segundo ele, algum empregado que não receba os valores para educação poderá reclamar uma equiparação salarial com o colega que recebe... Nunca, desde que existe o programa, um funcionário meu entrou na Justiça. Todos sabem que estudar é uma opção daqueles que têm vontade de crescer... E quem tem esse sonho pode realizá-lo porque a empresa oferece essa oportunidade. O empregado pode estudar o que quiser, mesmo que seja Filosofia, que não teria qualquer aproveitamento prático na nossa Empresa Geremia.
No mínimo, ele trabalhará mais feliz.

Meu sonho de consumo sempre foi uma Mercedes-Benz.
Adiei sua realização várias vezes porque, como cidadão consciente do meu dever social, quis usar meu dinheiro para fazer alguma coisa pelos meus 280 empregados.Com os valores que gastei no ano passado na educação deles, eu poderia ter comprado Duas Mercedes. Teria mandado dinheiro para fora do País e não estaria me incomodando com essas leis absurdas .

Mas infelizmente não consigo fazer isso.
Eu sou um teimoso.

No momento em que o modelo de Estado que faz tudo está sendo questionado, cabe uma outra pergunta. Quem vai fazer no seu lugar? Até agora, tem sido a iniciativa privada. Não conheço, felizmente, muitas empresas que tenham recebido o mesmo tratamento que a Geremia recebeu da Previdência por fazer o que é dever do Estado.
As que foram punidas preferiram se calar e, simplesmente, abandonar seus programas educacionais. Com esse alerta temo desestimular os que ainda não pagam os estudos de seus funcionários. Não é o meu objetivo. Eu, pelo menos, continuarei ousando ser empresário, a despeito de eventuais crises, e não vou parar de investir no meu patrimônio mais precioso: As pessoas.

Eu sou mesmo teimoso!...
Não tem jeito..."


São Leopoldo tem um dos menores índices de analfabetismo e de mendicância do país, talvez por causa de homens como este!


Silvino Geremia é empresário em São Leopoldo, Estado do Rio Grande do Sul.

quarta-feira, 2 de março de 2011

A ARTE DO ESPETÁCULO.

Estou relendo Galeano, A Escola do Mundo às Avessas, e refletindo sobre a sociedade e quais valores ela tem e quais deseja ter.

"Quem não tem não é: quem não tem carro, quem não usa calçado de marca ou perfumes importados, finge existir. Economia de importação, cultura de impostação: no reino da tolice, todos estamos obrigados a embarcar no cruzeiro do consumo, que sulca as agitadas águas do mercado. A maioria dos nave­gantes está condenada ao naufrágio, mas a dívida externa paga, à conta de todos, os bilhetes dos que podem viajar. Os empréstimos, que permitem atafulhar com novas coisas inúteis a maioria consumidora, agem em favor da boa-pinta das nossas classes médias e da mania de copiar das nossas classes altas; e a televisão encarrega-se de transformar em necessidades reais, aos olhos de todos, as procuras artificiais que o Norte do mundo inventa incessantemente e, com êxito, projecta sobre o Sul. (Norte e Sul, diga-se de passagem, são termos que, neste livro, designam a repartição do bolo mundial e nem sempre coincidem com a Geografia.)".

O importante não é ser, é ter. Quem tem é, que não tem, não existe.
Compromisso com a solidariedade e a partilha, é algo sem importância.
Os bonitos se relacionam, os feios se escondem.
A arte da valorização da estética, e não da Alma.
Parecer ter (ou seja, parecer ser rico e bem sucedido) é mais importante do que Ser(gentil, educado, trabalhor) na realidade.
Compaixão, colaboração e defesa dos que mais precisam, não é mérito, nem valorizado.

O importante é o cada um por sí, e a seleção natural que se responsabilize pelos que menos tem.

EMIR SADER

Deixei o blog um pouco de lado, mas agora volto com força total!

Hoje não é um dia comum que apenas senti uma luz e quis escrever, tenho um assunto em especial: EMIR SADER e sua não indicação a direção da Fundação Casa de Rui Barbosa.

Emir Simão Sader (São Paulo, 13 de julho de 1943) é um sociólogo e cientista político brasileiro. De origem libanesa, é graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, mestre em filosofia política e doutor em ciência política por essa mesma instituição. Nessa mesma universidade, trabalhou ainda como professor, inicialmente de filosofia e posteriormente de ciência política. Trabalhou também como pesquisador do Centro de Estudos Sócio Econômicos da Universidade do Chile e foi professor de Política na Unicamp. Atualmente, é professor aposentado da Universidade de São Paulo e dirige o Laboratório de Políticas Públicas (LPP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde é professor de sociologia. É autor de "A Vingança da História", entre outros livros.
Pensador de orientação marxista, Sader colabora com publicações nacionais e estrangeiras e é membro do conselho editorial do periódico inglês New Left Review. Presidiu a Associação Latino-Americana de Sociologia (ALAS, 1997-1999) e é um dos organizadores do Fórum Social Mundial.

Com todo este gabarito, nada mais correto do que este sociólogo excercesse um cargo governamental, ligado a cultura, aos debates políticos, ao desenvolvimento social. Assim,"Consultado sobre a possibilidade de assumir a direção da Fundação Casa de Rui Barbosa, elaborei proposta, expressa no texto “O trabalho intelectual no Brasil de hoje”. No documento proponho que, além das suas funções tradicionais, a Casa passasse a ser um espaço de debate pluralista sobre temas do Brasil contemporâneo, um déficit claro no plano intelectual atual" - o que Sader propunha eram debates abertos e gerais sobre os temas que afligem o Brasil: distribuição de renda, educação, cultura, saúde e saneamento, ouvir a população, trazê-la para perto das estruturas públicas, intregá-la ao processo de decisão das políticas públicas.

Mas, para nossa velha direita, isto não é algo "necessário", desejam que a população de aquiete e se acovarde diante dos problemas, por isto a festa diante da não nomeação de Emir Sader ao cargo.

Perde o povo, perde o país. Descansa a direita (mas por pouco tempo).